As pessoas estarão finalmente prontas para o amor quando pararem de contar as histórias erradas e cumprirem algumas destas exigências

1. Desistir da perfeição

É fundamental abrirmos mão da noção de que a vida seria perfeita com alguém; o máximo que podemos esperar é um relacionamento “bom o suficiente”. Para essa verdade se instalar no cérebro, é bom que alguns relacionamentos fracassem antes de nos comprometermos a longo prazo. Não que estejamos aprimorando nossa visão do parceiro ideal; na verdade, estamos obtendo em primeira mão a experiência de que até as pessoas mais empolgantes e aparentemente perfeitas também são frustrantes e decepcionantes em certos aspectos importantes.

2. Desistir de ser compreendido

A princípio, o amor envolve uma sensação maravilhosa de que a outra pessoa nos compreende como ninguém; ela é bondosa e aceita bem cada pedacinho da nossa individualidade. Mas isso não vai continuar sempre assim; existirão grandes áreas da nossa vida interior que nem a pessoa amada será capaz de entender. Não é culpa dela não conseguir perceber nossas necessidades. Não é que o outro seja obtuso ou não se esforce. Ninguém consegue entender o outro completamente nem ter total empatia com ele.

3. Perceber que é doido

Isso é o contrário do que esperamos. Normalmente nos achamos sensatos e razoáveis. Pensamos que o problema está nos outros. Mas ter maturidade significa admitir que, com frequência, somos idiotas: não resolvemos as feridas do passado, entendemos errado os motivos dos outros, somos guiados por impulsos, e não pela razão, ficamos tomados pela ansiedade. Somos idiotas adoráveis. Se não ficamos regularmente constrangidos por sermos quem somos, só pode ser porque temos uma extraordinária e perigosa memória seletiva.

4. Ficar feliz ao aprender e calmo ao ensinar

O sinal de que somos capazes de amar é adotarmos a ideia de que nosso parceiro será fundamentalmente mais perceptivo e sensato do que nós em alguns temas. Admitimos que ele tem muito a nos ensinar e nos dispomos de boa vontade a aceitar suas lições. Em alguns tópicos importantes, ele será o professor e nós, o aluno. Mas o mesmo se aplica a nós: temos de nos dispor a ser bons professores – pacientes, tolerantes e bondosos. Os bons relacionamentos se constroem como uma experiência educativa para os dois envolvidos.

5. Perceber que não é compatível com o parceiro

De acordo com o romantismo, a pessoa com quem idealmente deveríamos estar é alguém cujos gostos e interesses são bem parecidos com os nossos. A princípio, isso parece fazer todo o sentido. Mas, com o passar do tempo, gostar das mesmas coisas se torna algo menos significativo, porque os pontos em que diferimos vão ficando cada vez mais evidentes. Na verdade, quem deveríamos de fato procurar não é alguém cujos interesses coincidam perfeitamente com os nossos (essa pessoa não existe), mas alguém com quem possamos tratar as divergências de maneira generosa e inteligente. A compatibilidade inicial não é fundamental porque sempre se mostrará incompleta. Em vez disso, a capacidade de se esforçar para se tornar compatível é que marca o parceiro “certo”.

A visão romântica do amor é infeliz: ela cria esperanças altíssimas e impossíveis. Avaliados por esse padrão, todos os relacionamentos reais serão um fracasso, marcados por separações e rompimentos. Precisamos substituir a visão romântica por uma visão mais franca e realista de como são os relacionamentos “bons o suficiente”, com todas as suas tensões e tristezas. Por fim, deveríamos nos equipar com ferramentas, sob a forma de ideias, histórias e piadas, que nos ajudem a encarar as dificuldades ordinárias da vida em comum de um modo um pouquinho mais inteligente e com menos pânico.


Fonte: Life, The School of. Relacionamentos (The School of Life) . Sextante. Edição do Kindle.

Flávio Hastenreiter
flaviohastenreiter@gmail.com