Não é com qualquer vista que Flávio nos veste. Ou, na verdade, desveste. Flávio não escreve pela beleza da palavra. A palavra é que serve à beleza como ele acolhe nossa humanidade. Desafia o Quixote dentro de nós com gigantes que podem parecer moinhos mas, ainda assim, são gigantes. E então nos lembra que, para torna-los menos ameaçadores, também temos que nos tornar gigantes em nosso eterno exercício de ser e crescer. “Às vezes dói, mas não faz mal.” Sim, Flávio, e não é só às vezes. Mas o que é a poesia senão transformar algo de dor em uma beleza aparentemente abstrata, mas absolutamente concreta dentro de nós?
“É preciso sair do casulo
para viver a beleza
e se desenvolver
até morrer.”
É com essa beleza que Flávio nos desveste. De saber que, como o poema que aqui ele escreve, não estamos prontos. Nem nunca estaremos. E, ainda assim, somos belos. Belos o suficiente para querermos nos desenvolver. Para querermos existir. Belos o suficiente para sentirmos a alegria de cada dia que amanhece. De nos iludirmos ingenuamente com a ficção da lua. Belos o suficiente para lermos esses poemas e devolvermos, em nosso silêncio, o nosso obrigado!
Rodrigo Lodi,
poeta, fotógrafo, coautor do livro Mais Infinito e autor dos livros Palavra Pouca e Luas Sobre Etiópia.