A dependência química de substâncias é considerada um fenômeno complexo, inserido em um contexto de igual complexidade, dada a quantidade de variáveis que nele interferem e que, ao mesmo tempo, por ele são influenciadas. O tratamento desse transtorno, portanto, deve ser planejado considerando-se inúmeras condições e objetivando a obtenção de desfechos mais positivos.
Cada paciente deve ser visto em sua individualidade, e o clínico que atua nessa área não deve desviar-se de seu objetivo principal: auxiliar o indivíduo, buscando modificar comportamentos que facilitam a manutenção da dependência. Para isso, deve utilizar ferramentas terapêuticas que apresentam resultados baseados em evidências.
As terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) têm sido referenciadas como abordagens eficazes no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos – incluindo o transtorno por uso de substâncias -, e a aplicação desse conjunto de técnicas no contexto do tratamento tem se mostrado eficaz tanto para o alcance como para a manutenção da abstinência em usuários de álcool, tabaco ou substâncias ilícitas.
Neide A. Zanelatto
Mais de três décadas de pesquisa na área da dependência química mostram que este é um transtorno tratável.
Ainda que a visão do desenvolvimento da dependência química gere controvérsias, colocando lado a lado os que põem a biologia como fator central para o surgimento do transtorno e aqueles que acreditam que o dependente não é uma vítima da doença, mas sim o responsável por sua recuperação; ainda que os vários tratamentos oferecidos para o manejo desse transtorno tragam resultados positivos, mas não dispensem a necessidade de mais estudos para apoiar em evidências as melhores práticas; ainda que convivamos, profissionais e pacientes, com o estigma social que considera a dependência química um problema mais moral do que de outra ordem, todas as evidências corroboram a primeira afirmação. A dependência química, um fenômeno considerado de ordem multifatorial, pode ser tratada e, em muitos casos, com sucesso.
Entre as principais abordagens de tratamento estão o manejo farmacológico, as intervenções psicoterápicas, o suporte oferecido nos grupos de mútua ajuda (tanto para dependentes quanto para familiares), as ações integradas nas internações voluntárias e involuntárias em clínicas especializadas, nas moradias assistidas ou em comunidades terapêuticas formadas por leigos conhecedores do problema e de seu manejo (hoje com crescente especialização). A experiência mostra que a combinação das várias abordagens oferece ao paciente uma atenção customizada, atendendo-o naquilo que ele mais precisa.
As intervenções psicoterápicas baseadas nos modelos cognitivo-comportamentais têm se mostrado eficazes nos tratamentos de vários transtornos psiquiátricos, entre eles, a dependência de substâncias. O conhecimento e a experiência dos profissionais envolvidos no processo e nos desdobramentos deste auxiliam os pacientes dependentes na construção de uma caminho de compreensão do problema da dependência que os leve a um estilo de vida saudável, sem o uso de drogas.
Ronaldo Laranjeira
Comportamentos adictivos são hábitos hiperaprendidos e mal-adaptativos seguidos por uma gratificação imediata. São considerados hiperaprendidos porque já foram executados inúmeras vezes na vida e acontecem quase automaticamente; e são comportamentos mal-adaptativos por não se adaptarem ao bem-estar físico, mental e/ou social do indivíduo. A experiência imediata da gratificação é seguida por consequências negativas retardadas: desconforto ou doença física, desaprovação social, perda financeira, autoestima diminuída. A gratificação que segue o ato, seja ela o prazer ou o alívio do desprazer, reforça o indivíduo a repeti-lo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental auxilia a pessoa a enxergar melhor a realidade e a buscar alternativas para a resolução de seus problemas, pois tem como premissa a ideia de que são as interpretações que a pessoa tem dos fatos, e não os fatos em si, que lhe trazem sofrimento. A Terapia Cognitiva é uma abordagem estruturada, diretiva, ativa, psicoeducativa e de prazo limitado. Tal abordagem prevê a realização de entrevistas iniciais, nas quais serão investigadas possíveis existências de psicopatologias associadas aos comportamentos adictivos (e comorbidades), bem como a avaliação multiaxial completa do indivíduo, considerando suas necessidades biopsicossociais.