Brené Brown
Como uma perfeccionista em recuperação e uma aspirante ao time do “bom o bastante”, estou sempre ansiosa para ler primeiro as respostas para esta pergunta: O perfeccionismo é um problema para você? Em caso afirmativo, que estratégias você usa para administrá-lo?
Levanto esta questão porque, em todas as minhas coletas de dados, nunca ouvi uma pessoa atribuir sua alegria, seu sucesso ou sua plenitude ao fato de ser perfeito. Na verdade, o que mais ouvi ao longo de todos esses anos é uma mensagem clara: “As coisas mais preciosas e importantes chegaram em minha vida quando tive coragem para ser vulnerável, imperfeito e tolerante comigo mesmo.” O perfeccionismo não é o caminho que nos leva aos nossos talentos e ao sentido da vida; ele é um desvio perigoso.
Vou compartilhar aqui algumas de minhas respostas preferidas, mas primeiro quero falar um pouco sobre a definição de perfeccionismo que emergiu da pesquisa. Eis o que aprendi.
Assim como a vulnerabilidade, o perfeccionismo acumulou em torno de si muitos mitos. Creio que pode ser útil começar dando uma olhada no que o perfeccionismo não é:
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Perfeccionismo não é se esforçar para a excelência. Perfeccionismo não tem a ver com conquistas saudáveis e crescimento. Perfeccionismo é um movimento defensivo. É a crença de que, se fizermos as coisas com perfeição e parecermos perfeitos, poderemos minimizar ou evitar a dor da culpa, do julgamento e da vergonha. Perfeccionismo é um escudo de 20 toneladas que carregamos conosco, achando que ele nos protegerá, quando, de fato, é aquilo que realmente nos impede de sermos vistos.
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Perfeccionismo não é autoaperfeiçoamento. Perfeccionismo é, em essência, tentar obter aprovação. A maior parte dos perfeccionistas cresce sendo louvada por suas conquistas e seu bom desempenho (notas, boas maneiras, regras cumpridas, trato com as pessoas, aparência, esportes). Em algum ponto do caminho eles adotaram esse sistema de crença perigoso e debilitante: “Eu sou o que realizo e quão bem o realizo.” O empenho saudável é focado em si mesmo: “Como posso melhorar?” Mas o perfeccionismo é focado nos outros: “O que eles vão pensar?”
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O perfeccionismo não é a chave do sucesso. Na verdade, a pesquisa mostra que o perfeccionismo dificulta a conquista, pois está relacionado com depressão, ansiedade, compulsão e também com a paralisia da vida e a perda de oportunidades. O medo de falhar, de cometer erros, de não corresponder às expectativas dos outros e de ser criticado mantém o perfeccionista fora da arena da vida, onde a competição e o esforço saudáveis se desenrolam.
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Por fim, o perfeccionismo não é uma maneira de evitar a vergonha. Ele é uma forma de vergonha. Quando lutamos contra o perfeccionismo, lutamos contra a vergonha.
Depois de usar os dados coletados para abrir caminho por meio dos mitos, formulei as seguintes definições de perfeccionismo:
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Perfeccionismo é um sistema de crença autodestrutivo e viciante que alimenta este pensamento primitivo: “Se eu parecer perfeito e fizer as coisas com perfeição, poderei evitar ou minimizar os sentimentos dolorosos de vergonha, julgamento e culpa.”
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O perfeccionismo é autodestrutivo simplesmente porque a perfeição não existe. É uma meta inatingível. O perfeccionismo tem mais a ver com percepção do que com uma motivação interna, e não há maneira de se dominar uma percepção, por mais tempo e energia que se gaste tentando.
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O perfeccionismo é viciante porque, quando experimentamos a vergonha, o julgamento e a culpa, acreditamos que o motivo para isso é não sermos perfeitos o bastante. Em vez de questionarmos a lógica defeituosa do perfeccionismo, nos tornamos mais apegados ao nosso propósito de aparentar perfeição e fazer as coisas de maneira perfeita.
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O perfeccionismo, na verdade, nos predispõe a sentir vergonha, julgamento e culpa, o que gera mais vergonha e condenação: “É minha culpa. Estou me sentindo assim porque não sou bom o bastante”.
Autora: Brené Brown
Livro: A coragem de ser imperfeito
Editora: Sextante
Ano: 2013