Gyalwa Dokhampa
1. Ver o lado bom da vida
Depois de ler esse livro [A mente serena], pode ser que você não se torne imediatamente alguém que vê o “copo meio cheio”, e o mundo seria um local muito aborrecido se todos fossem iguais. Mas percebermos o que vai bem em nossa vida fomentará nossa mente serena, nossa paciência, compaixão e felicidade. Vermos o lado bom da vida ou sermos capazes de ver as coisas sob uma perspectiva diferente faz com que sejamos pessoas mais amigáveis e menos críticas com os outros e conosco mesmo. Você não se comparará tanto com os outros, sentirá mais felicidade pelo sucesso alheio e simplesmente apreciará mais a vida.
2. Aceitar que a vida é cheia de altos e baixos
Apreciarmos o lado positivo da vida não significa ignorarmos os dias ruins ou os desafios que encontramos. Mas se aceitarmos que a vida é uma espécie de montanha-russa, também perceberemos que tudo está sujeito à mudança. E se tudo é impermanente, nossa própria mente e emoções também o são. Podemos ficar com muita raiva de uma determinada situação, mas em vez de nos prendermos a essa raiva por um dia, uma semana ou até mais, a ponto desse sentimento dar o tom de nossa personalidade, será mais fácil nos soltarmos dela já que será como uma nuvem de tempestade no céu ou uma onda que se choca contra a costa.
A aceitação é muito liberadora pois permite que coloquemos foco nas coisas que podemos mudar. Por exemplo, o meio ambiente. É muito perturbador constatarmos que os governos fazem tão pouco para cuidar melhor do ambiente. Sentimos nossa impotência já que não conseguimos mudar as políticas governamentais. Mas, se em vez disso, nos preocuparmos com nossas próprias atitudes em relação à preservação do meio ambiente, compreenderemos que cada um de nós pode fazer suas mudanças, e, assim, fazer a diferença.
A aceitação não quer dizer abandonarmos nossas preocupações; elas possibilitam direcionar nossos esforços, o melhor lugar para focarmos focarmos a mente. Ao aceitarmos a incerteza, nos liberamos do peso das infindáveis expectativas e nos abrirmos às muitas e variadas possibilidades da vida.
3. Retornar ao momento presente
A mente inquieta muitas vezes tem suas raízes na luta contra o tempo. Entramos em pânico por causa dos afazeres de hoje ou olhamos para o futuro, preocupando-nos com o que pode acontecer. Será que receberemos aquela promoção? E se perdermos o trabalho ou ficarmos doentes? Ou talvez pensemos demais sobre o que já passou – sobre o que dissemos, as escolhas que fizemos ou por que a vida não pode ser como antes.
Precisamos colocar nossa mente no presente usando todos os sentidos. O que está acontecendo agora? As crianças são um bom exemplo para nos recolocar no presente; elas não se preocupam com o futuro nem ficam presas ao passado. Ficam maravilhadas vendo um trem passar ou pegando uma folha que cai. Riem de si próprias e também dos adultos. Podem não ter as responsabilidades da vida adulta, mas são um ótimo lembrete de que a alegria é algo que sentimos no momento presente, quando realizamos bem uma tarefa ou ao fazermos uma refeição muito boa. Engajamo-nos com o mundo, aumentando nossa capacidade de perceber o sofrimento dos outros e importando-nos o suficiente para ajudá-los.
Estarmos presentes possibilita vermos as emoções um pouco mais claramente à medida que surgem, em vez de, repentinamente, sermos esmagados por elas. Podemos sentir o peso da vergonha ou da perturbação, mas, por estarmos presentes, conseguimos olhar para elas e pensar: precisamos realmente ficar envergonhados ou perturbados? Será que não conseguiremos nos soltar delas antes que destruam nossa paz de espírito?
4. Amor e bondade é o que importa
O que há de melhor ao desenvolvermos uma mente serena é o aumento da capacidade de amarmos e sermos bondosos. Temos mais espaço para os outros e suavizamos quaisquer resquícios que tenhamos a respeito de nossas próprias atitudes, de forma que a paciência e a tolerância tomam o lugar antes ocupado pela crítica e pela irritação.
O conforto material ou mesmo a riqueza podem ser muito agradáveis; nos esforçarmos para sermos bem-sucedidos na vida não é algo ruim. Mas além de termos um teto e comida na mesa, o equilíbrio em nossa vida jamais virá de posses materiais. Portanto, se pudermos cultivar relacionamentos amorosos, amor pela humanidade e pelo mundo, traremos mais equilíbrio a nossa mente.
Passemos um pouco de tempo todos os dias fazendo a Meditação de Apreciação, pensando sobre o amor em nossa vida e o veremos crescer cada vez mais. O equilíbrio é um dos aspectos mais importantes da vida, portanto, devemos evitar apegos muito fortes. Se pudermos oferecer amor sem condições, façamo-lo livremente, sem nos agarrar a ele. Esse é o tipo de amor que produz felicidade na mente serena. Quando fazemos os outros felizes com a única intenção de lhes trazer felicidade, a vida nos trará muita inspiração.
Mesmo que tenhamos que criticar os outros com o objetivo de ajudá-los – na posição de chefes, professores ou pais –, devemos fazê-lo com um senso de amorosidade. Todos sabíamos, durante nossa infância, quando as instruções eram dadas com amor; por isso, mesmo que nos sentíssemos magoados ou chateados superficialmente, sabíamos, no fundo, que estávamos aprendendo algo – compreendíamos que as lições dadas eram para nosso próprio benefício.
Todos nós sabemos como é sentir a bondade de desconhecidos; toca nossos corações. Sejamos bondosos com desconhecidos e vizinhos e, também, com os que estão próximos de nós. E a melhor forma de fazermos isso é sendo bons com nós mesmos. Portanto, se todos os nossos pensamentos, palavras e ações surgirem de um lugar dentro de nós, de nossa mente serena, auxiliando os outros, também estaremos nos ajudando. Amarmos os outros é amar a nós mesmos e, fazermos a diferença na vida de outras pessoas, é darmos sentido para nossa própria vida.
5. Sente-se
Não devemos temer o silêncio e a imobilidade. Sentarmos em silêncio pode ser uma das coisas mais difíceis para algumas pessoas, de início, mas usar as técnicas de respiração permite que nosso corpo relaxe no presente. Concedamos a nós mesmos essa folga tão merecida. Não nos preocupemos com os pensamentos correndo em nossa mente quando sentamos para meditar, apenas os imaginemos se desacelerando gradualmente. Reconheçamos o que está em nossa mente, deixando tudo como está. Podemos sentar num banco vez ou outra apenas para sentirmos o sol ou o vento em nosso rosto. Sentemos próximos ao fogo para sentirmos o calor no corpo. Sentemos em silêncio, em nossa mesa, antes de ligarmos o computador (e ao o desligarmos no fim do dia).
Alguns minutos sentados abrirão espaço em nosso dia todo.
6. Faça uma coisa de cada vez
Como podemos nos acalmar fazendo três coisas ao mesmo tempo? Por que caminhamos e escrevemos no celular ao mesmo tempo? Será que ter tantas ocupações promove a felicidade? Estarmos presentes na vida significa sermos capazes de mantermos o foco no que realmente importa, colocando o coração em todos os esforços. Portanto, se estamos bebendo uma xícara de chá, podemos usar aqueles minutos para relaxar e permitir que a mente se aquiete um pouco. Se estamos trabalhando num projeto, podemos fechar o e-mail, desligar o telefone e nos dedicarmos plenamente àquela tarefa. Se você está lendo uma história para seu filho, você pode estar totalmente presente para ele, porque você valoriza o tempo que passa com ele. Ao fazermos uma coisa de cada vez, nossa produtividade será maior, em vez de pararmos e começarmos uma tarefa vez após vez, desperdiçando tempo e retomando atividades que deixamos pela metade. Talvez possamos decidir fazermos menos tarefas num dia: ao sabermos que aquela reunião ou telefonema dará certo, teremos um bom dia sem necessidade de nos envolver com mais ocupações em cada minuto desperto.
7. Ria
Como nos sentimos bem quando não conseguimos parar de rir. A risada suaviza nosso fardo, nos faz caminhar mais leves, colocando-nos de volta ao presente. E o mesmo ocorre com o sorriso. São formas de compartilhar felicidade, de diminuir a tristeza de outra pessoa, ou de dissipar uma situação que poderia ficar tensa. A risada também é uma ótima resposta para falhas de comunicação – em vez de julgarmos o outro pelas diferenças, podemos aproveitar a situação para rirmos juntos.
É ótimo vermos o lado engraçado das coisas, de não nos levarmos muito a sério. No fim das contas, somos só seres humanos tentando fazer o melhor.
8. Caminhe
Caminhar é voltarmos ao ritmo do mundo e sentirmos nosso próprio senso de equilíbrio a cada passo. Quando caminhamos podemos nos lembrar de nosso lugar no mundo: que somos um indivíduo, único, mas que também somos só mais uma pessoa entre tantas e que cada um de nós tem tanto felicidade quanto sofrimento na vida.
Caminhar nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva; viajamos leves, deixando nossa bagagem para trás por um momento. Quando estamos presentes em nosso corpo, o apreciamos e o sentimos a cada movimento, tornando-nos alertas. Podemos até entrar em contato com a natureza, percebendo os pássaros cantando ou vendo os sinais da estação. Na cidade podemos perceber os sinais de humanidade nas pessoas passando e, da mesma forma que as estações nos lembram da impermanência e da mudança, os prédios também o fazem – alguns recém-construídos, enquanto outros caindo aos pedaços.
Quando caminhamos, respiramos mais fundo, colocando mais ar nos pulmões. Podemos contemplar as emoções que surgiram durante o dia, olhando para elas calmamente antes de deixá-las se dissipar. Ou podemos usar a ocasião para nos desligar de tudo e só caminhar.
9. Ouça
É bom nos conhecermos através da contemplação, mas ela não deve nos tornar autocentrados ou nos desligar do mundo ou das pessoas ao redor. Quando a mente é inquieta, achamos difícil nos assentar o suficiente para realmente ouvirmos os outros. Estamos ali em corpo, mas nossa mente está em outro lugar, pensando em centenas de coisas diferentes. Ou nossas emoções estão tão entrincheiradas que podemos apenas oferecer nossa própria visão da situação, sem nem tentarmos verificar a perspectiva da outra pessoa.
À medida que praticamos simplesmente sentar e respirar, nos acostumamos a ficar mais parados e calmos. Estando mais tranquilos, podemos realmente ouvir, o que é um ato de generosidade tanto para quem estamos ouvindo quanto para nós mesmos, já que essa atitude faz com que aprendamos algo. Precisamos ouvir com a mente e o coração abertos – sem nem sempre ser necessário oferecermos soluções ou respostas, mas, ao passo que ouvimos com uma mente serena, ficamos receptivos e nossa sabedoria ou criatividade podem ser desencadeadas.
10. Adote a simplicidade
Não deixemos as coisas se empilharem seja a nosso redor ou dentro de nossa mente. Se permitirmos que as situações e emoções se desnudem, começaremos a vê-las como o que realmente são. Vemos nossa raiva como ela é – uma emoção intensa, mas não algo a que precisamos nos agarrar. Começamos a perceber as decisões complexas com mais clareza: perguntaremos onde está nosso maior potencial para a generosidade ou para a felicidade. O que nosso coração diz? Se hoje não tivéssemos medo, o que faríamos? Sabemos que nem sempre podemos controlar o resultado das situações, mas nos sentimos mais confortáveis com nós mesmos ao reconhecermos que estamos fazendo nosso melhor a cada dia.
Pratiquemos a arte de nos soltar das coisas, ou cuidemos do que já conseguimos em vez de sempre buscarmos mais. Da mesma forma que nossa mente adora espaço para se esticar e crescer, nosso espaço físico tem o mesmo efeito. Quando chegamos ao mundo estamos de mãos vazias e o mesmo acontece quando o deixamos, então por que passarmos tanto tempo adquirindo coisas nesse ínterim?
Podemos praticar simplicidade na forma de nos alimentarmos: em vez de enchermos a geladeira com comidas do mundo todo, que acabarão sendo jogados fora, podemos descobrir os alimentos simples que há nas redondezas. Começamos a apreciar os efeitos da alimentação sobre nossa saúde porque ela nos ajuda a manter nossa forma física e a energizarmos a mente. Podemos fazer nossas refeições sem pressa, sem imediatamente seguirmos para a próxima tarefa. Lembremo-nos da diferença que há entre o que queremos e o que precisamos: o que precisamos pode ser muito simples, enquanto o que desejamos pode ser uma lista sem fim.
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Fonte: Dokhampa, Gyalwa. A mente serena: Uma nova forma de pensar, uma nova forma de viver (Locais do Kindle 2865-2869). Lúcida Letra. Edição do Kindle.