Transtorno obsessivo-compulsivo: de novo e de novo e de novo

Charles H. Elliott e Laura L. Smith

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) causa estragos incríveis na vida das pessoas porque frustra e confunde não só as pessoas que sofrem desse distúrbio, mas, também, suas famílias e entes queridos. Se não tratado, é provável que dure a vida toda. Mesmo com o tratamento, os sintomas podem voltar; essa é a má notícia. Felizmente, tratamentos altamente eficazes estão disponíveis.

Distinguindo entre obsessões e compulsões

Uma pessoa com TOC pode ter comportamentos que incluem uma obsessão, uma compulsão ou ambas. Então, qual a diferença entre obsessões e compulsões?

Obsessões são imagens inoportunas, perturbadoras e repetitivas, impulsos ou pensamentos que surgem na mente. Por exemplo, um homem religioso pode ter um pensamento incitando-o a gritar obscenidades durante uma missa na igreja, uma mãe cuidadosa pode ter pensamentos intrusivos de causar danos ao bebê. Felizmente, as pessoas com TOC não têm esses tipos de pensamentos, mas obsessões assombram aquelas que as têm. A maioria das pessoas que têm TOC sabe que suas obsessões não são totalmente realistas, mas parecem não conseguir parar de acreditar nelas.

Compulsões são ações repetitivas ou estratégias mentais realizadas para reduzir temporariamente a ansiedade ou angústia. Às vezes, um pensamento obsessivo causa ansiedade e em outros momentos ele se relaciona com algum evento ou situação temida que desencadeia a compulsão.

Por exemplo, uma mulher pode lavar as mãos, literalmente, centenas de vezes por dia a fim de reduzir sua ansiedade sobre os germes; um homem pode ter um elaborado ritual noturno de tocar certos objetos, alinhar a roupa de uma maneira específica, arrumar sua carteira ao lado de suas chaves em uma posição especial, empilhar seus trocados, ir para a cama precisamente de uma maneira correta e ler um trecho da Bíblia antes de apagar a luz. Se fizer qualquer parte do ritual de maneira inferior à “perfeita”, ele se sentirá obrigado a começar tudo de novo, até que acerte. Caso contrário, ele pensará que não conseguirá dormir e que algo ruim poderá acontecer com aqueles com quem se importa.

Vendo TOC onde não há

Você pode se lembrar de ir a pé para a escola com seus amigos e evitar as rachaduras na calçada. Se você pisasse em uma, talvez alguém ralhasse: “se você pisar em uma rachadura, sua mãe vai cair dura!” Às vezes, você caminhava sozinho para a escola, aquele mesmo pensamento lhe vinha à mente e o fazia evitar pisar em rachaduras. Obviamente, você sabia que pisar em uma rachadura não faria com que sua mãe caísse dura. Então, não pisar em rachaduras quase se qualifica como uma compulsão. Isso ocorre porque você pode tê-lo feito várias vezes, sabendo que não evitaria que nada de ruim acontecesse. Se você fazia isso simplesmente como um jogo e não se incomodava muito, evitar rachaduras não era grande coisa e não era TOC. Além disso, crianças muitas vezes têm o pensamento mágico ou supersticioso que costumam superar depois de crescidas.

Por outro lado, se alguma parte de você realmente acredita que sua mãe poderia sofrer se você pisasse em uma rachadura e isso algumas vezes o impediu de ir à escola, você provavelmente teve uma compulsão estabelecida. Muitas pessoas verificam as trancas mais de uma vez, voltam algumas vezes para certificar-se de que a cafeteira está desligada ou contam os degraus ou passos desnecessariamente. Você pode dizer que realmente tem um problema quando essas coisas começa a tomar muito tempo e a interferir nos relacionamentos, trabalho ou vida cotidiana.

A história de Lisa retrata alguém com TOC que se preocupa com contaminação. Como muitas pessoas com esse distúrbio, seus medos têm alguma chance de se tornarem reais, mas ela exagera muito nos riscos.

Lisa gosta de uma casa limpa e arrumada. Na faculdade, ela acabou ficando em um dormitório individual porque não conseguia suportar a bagunça dos outros alunos. Agora, casada e com um bebê novo, Lisa passa horas limpando e arrumando a casa; seu marido não parece se importar. Ele trabalha muito e gosta de chegar em uma casa arrumada, com uma refeição quente.

A televisão de Lisa geralmente está ligada durante o dia, enquanto ela limpa e cuida do bebê. Ela primeiro ouve o canal a cabo de notícias falar de um possível surto de gripe. A morte de uma criança em um estado próximo a assusta e ela começa a ficar obcecada com uma pandemia mundial. Acredita que, higienizando sua casa, vai evitar que o vírus infecte sua família. Lisa encomenda seus mantimentos e material de limpeza pela internet para evitar sair de casa, temendo uma contaminação. Ela agora passa a maior parte do dia limpando, exceto quando está alimentando o bebê. Seu marido, começando a se preocupar, pergunta-lhe se talvez não esteja se tornando um pouco ansiosa demais em relação aos germes.

Como muitas pessoas com TOC, o medo de germes de Lisa começa com uma tendência normal em ser limpa e arrumada. No entanto, o TOC assume sua vida quando ela não consegue limpar o suficiente e se preocupa constantemente em ficar gripada.

Flávio Hastenreiter
flaviohastenreiter@gmail.com