Reorientação Profissional, uma realidade

Antigamente o serviço de Orientação Profissional (OP) era dedicado a alunos do que hoje se chama de Ensino Fundamental e Médio. A OP foi criada basicamente para esse público. Hoje se estendeu para além deste, servindo também para adultos, reorientações até mesmo na aposentadoria.

Isso se torna importante já que dados do Censo de Educação Superior/2011, o último divulgado até então, revela que houveram 3.632.373 de matrículas, 1.243.670 de ingresso e 522.928 de concluintes no ensino superior no referido ano. Isso mostra que o número de matrículas e ingresso é muito superior ao número de concluintes. Entre as diversas variáveis que poderiam explicar essa diferença, estão pessoas que desistiram do curso por insatisfação com a escolha que fizeram. Mas outro percentual que se soma a esses que desistiram antes de concluir, se refere àqueles que já concluíram, mas não pretendem exercer a profissão. E mais, aqueles que irão exercer ou já exercem a profissão e anos à frente desistem por insatisfação com o exercício profissional ou outros motivos.

Tudo isso, como dito anteriormente, considerando as diversas variáveis que podem explicar tal fato, também pode ser explicado em grande medida pela falta de orientação quanto a escolha profissional feita inicialmente. Dados da experiência: cerca de 70% da orientação que já realizei foram para pessoas que já tinham curso superior e exerciam a profissão ou não, e pessoas que estão cursando o ensino superior e ainda em dúvidas se fizeram a escolha certa.

Nesse sentido, a reorientação profissional é uma realidade, é não é de hoje. Dados de uma publicação de 2004 apontaram diversas razões pelas quais as pessoas podem se frustrar em sua primeira escolha e acabam buscando novas tentativas através da OP, algumas delas foram:

Insatisfação em relação à escolha profissional realizada;
Insegurança diante de uma nova escolha;
Certeza quanto à necessidade de auxílio;
Necessidade de aumentar o conhecimento de si mesmo através da orientação, como forma de fundamentar uma análise mais acurada da situação atual e tomada de decisão mais segura;
Necessidade de informação sobre outras possibilidades profissionais, como uma complementação importante ao processo prioritário de autoconhecimento;
Maior necessidade de conhecer a realidade prática da profissão, como um importante fator que auxiliaria na avaliação entre permanecer ou abandonar o curso e fazer nova escolha;
Não apresentar as habilidades requeridas para o exercício da profissão;
Não ter conhecimento sobre o processo de inserção no mercado de trabalho;
Reprovação em disciplinas como a principal razão para o abandono do curso, dificultando também o processo de re-escolha (Moura e Menezes, 2004).

Além de outros aspectos envolvidos na insatisfação tanto acadêmica quanto no exercício da profissão, como visto na fala de alguns clientes sobre o seu motivo: “monotonia”, “rotina de trabalho desgastante”, “falta de interação”, “histórico de decepção profissional na família”, “profissão supérflua”, “retorno financeiro”, “relacionamento entre colegas de trabalho”, “desgaste físico”, “falta de rotina”, entre outras. Ou seja, estas falas especificamente, revelam alguns indícios de desconhecimento da profissão (informação profissional) e de características pessoais requeridas, por exemplo, quando um se queixa da rotina e outro da falta dela. Mas, vale ressaltar que Reorientação Profissional não se justifica apenas quando se está insatisfeito, ela serve a outros propósitos, como a progressão na carreira.

A Orientação Profissional, neste caso servindo como um redirecionamento, serve não apenas para se ter um norte sobre o campo profissional a seguir, mas também como uma oportunidade de autoconhecimento, de alinhamento entre habilidades/características pessoais e profissão, do sentido/significado do trabalho para ser humano, da relação trabalho e projeto de vida.

Decidir fazer Orientação Profissional já é meio caminho andado, mas ela por si só não garante sucesso. Já dizia a poeta Cora Coralina (1889-1985): “A Verdadeira coragem é ir atrás de seus sonhos mesmo quando todos dizem que ele é impossível”.

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da educação superior: 2011 – resumo técnico. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013. 114 p.

Moura, CB., Menezes, MV. (2004). Mudando de opinião: análise de um grupo de pessoas em condição de re-escolha profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(1), 29-45.
Flávio Hastenreiter
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