Quais são as necessidades emocionais que tanto referimos?

Lissia Ana Basso

 

Para ligar um automóvel são necessários alguns itens básicos: bateria, água, óleo, filtros, bobina e nada disso adiantaria, se não houvesse o cilindro e seus pistões, pois são eles que transformam o combustível em energia e dar movimento ao carro. Da mesma forma, nós também precisamos de certos cilindros, de pistões, bobinas, filtros, água e óleo combustível. Nas barrigas de nossas mães, talvez nós já experienciamos alguns desses itens, mas será nas primeiras experiências de vida, os momentos mais importantes para termos contato com esses itens básicos. Dessa maneira, nosso motorzinho ofertará energia suficiente para sobreviver.

A Teoria focada em Esquemas, construída por Jeffrey Young, aponta que para sermos adultos saudáveis, todos nós, sem caráter de exceção, precisamos de alguns itens básicos – cinco tarefas evolutivas são necessárias para que a saúde psíquica, se desenvolva no seu maior potencial. Ou seja, nós precisamos que nossas necessidades emocionais sejam atendidas na infância. Quais são essas necessidades emocionais que tanto falamos? Na sequência, uma breve descrição delas.

Aceitação e conexão

O que possibilita a construção de relações saudáveis e estáveis na vida adulta, é ter formado um vínculo seguro com os pais e/ou cuidadores ainda nas primeiras relações da infância. É necessário nos sentir aceitos e que somos importantes, que nossos cuidadores nos acolham afetivamente, atendam nossas solicitações de ajuda, que nos protejam quando estivermos sentido vulneráveis e nos confortem quando estivermos assustados. Cada um de nós precisa de frequências, intensidades e afetos diferentes. É preciso saber identificar e prover de maneira adequada, aquilo que é solicitado. Dessa maneira, carregar nossas baterias de conexão, aceitação e proteção, possibilitará o fornecimento de forças necessárias para que possamos desbravar o mundo.

Autonomia e Competência

Para que se possa resolver os mais diversos pepinos que a vida nos apresenta, a ir em busca de conquistas e sonhos, é necessário conhecer nossas habilidades e competências. É fundamental que nos ensinem e motivem a tentar, a arriscar, a sair da barra da saia das nossas mães e/ou cuidadoras. Se houver o auxílio e suporte apropriado, a coragem ganhará força e mais facilmente buscaremos pela independência e pela realização pessoal. Com os cilindros e os pistões apropriados, podemos transformar os incentivos e ensinamentos que recebemos em energias para dar movimento e direção as nossas vidas.

Limites realistas

A frustração estará presente em nossas vidas, mas do que desejamos. Ou melhor, precisará estar presente. Sentiremos raiva e tristeza por não ter tudo aquilo que quisermos, da maneira e no momento específico, mas é inegável a importância de aprendermos os limites, as regras, as combinações. Por algum motivo elas estão ali e deverão ser seguidas. Birra ou choro farão parte desses momentos para tentar quebrar as regras, mas é necessário pulso firme para o bem de todos. Entretanto, precisamos saber filtrar as emoções, a limpar os excessos, atentar para a flexibilidade ou para a rigidez em demasia, não soar passividade, nem hostilidade.

Espontaneidade e lazer

Todos nós sabemos que existem exigências, compromissos, condutas éticas e ideais a serem respeitados. No entanto, existem e devem ser muito considerados os momentos de lazer e divertimento, o cuidado com a saúde e com os relacionamentos interpessoais, os momentos de felicidade e auto expressão. Esses sim, deveriam ser primordialmente lembrados e investidos. De que adianta sentir realizado por um filho ter ido bem na escola e fazer mil e uma atividades, se ele não tiver espaço e tempo para curtir as sensações agradáveis e aproveitar os momentos leves da vida? Não é luxo, é saúde mental que está em jogo. A água, por mais simples que seja, é tão ou mais importante que o óleo. Sucesso na esfera profissional, não enche os copinhos do âmbito pessoal.

Liberdade de expressão e emoções válidas

É extremamente importante que nossos pais e/ou cuidadores motivem a expor aspectos de nós mesmos: emoções, vontades, preferências, independente do que seja. Nada de ficar consentindo e instruindo para ficarmos quietinhos porque não fica adequado, ou porque alguém reprovará. Temos o direito de posicionarmos, de opinarmos, de pedir pelo que necessitamos emocionalmente e sermos atendidos, validados. É genuíno, é admirável, é ser sincero com nós mesmos! É importante priorizar nossa saúde e bem-estar emocional, pois esses fatores, são intrinsicamente mais importantes que aceitação social e status, que muitas vezes foram impostos a nós.

Enquanto somos crianças, vamos construir uma base para cada uma dessas demandas. Nossas mães, avós, tias e/ou cuidadoras, serão os nossos postos de combustíveis. Ao longo da vida, iremos encontrar vários ‘estabelecimentos’, que nem sempre terão a mesma qualidade e custo-benefício. O que vai ser fundamental, é, depois de ter passado por poucas e boas, poder distinguir aqueles fornecedores que poderão nos passar a perna. Sim, alguns combustíveis virão com certas impurezas, mas podemos aprender a filtra-las. Antes, precisamos saber quais são os itens que precisam ser repostos no estoque e a qualidade do combustível que merecemos para ligar nossos motorzinhos e seguir em frente.

Por Ms. Lissia Ana Basso, psicóloga na Wainer Psicologia Cognitiva.

 

*As informações contidas nesta publicação não substituem a avaliação de um profissional da área da saúde mental
Flávio Hastenreiter
flaviohastenreiter@gmail.com