21 jun Por que só pensar positivo mais atrapalha do que ajuda
Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, pessoas deveriam ser mais críticas com a influência do otimismo.
“Pense positivo que você chega lá”. A frase motivacional ganhou versões mais complexas em livros e filmes de autoajuda nos últimos tempos e tornou-se quase uma verdade incontestável. Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, porém, a ideia tem limitações que precisam ser lembradas por aqueles que se apegam ao otimismo como ferramenta de motivação e conquista.
No livro “Rethinking Positive Thinking: Inside the New Science of Motivation” (repensando o pensamento positivo: por dentro de uma nova ciência motivacional), Oettingen explora esse lugar comum e a ideia de motivação com base em evidências empíricas.
Uma dessas evidências, por exemplo, surgiu de uma pesquisa na qual a psicóloga dividiu estudantes de graduação em dois grupos. O primeiro grupo foi incumbido de mentalizar que a semana seguinte seria incrível, com boas notas, festas etc. O segundo, de registrar todos os pensamentos particulares que tivessem sobre os dias por vir, fossem bons ou maus.
Ao final do experimento, os alunos do primeiro grupo sentiam-se muito mais desmotivados do que do segundo. Oettingen chegou então à conclusão que “otimismo cego” não necessariamente motiva as pessoas, mas cria uma sensação de condescendência.
“É como se ao sonhar ou fantasiar sobre algo que queremos, nossas mentes são enganadas a acreditar que conquistamos o objetivo desejado”, escreveu sobre o trabalho Richard A. Friedman, professor de psicologia clínica da Weill Cornell Medical College, em artigo no “The New York Times”.
Isso acontece, descobriu a psicóloga alemã, porque a sensação otimista faz as pessoas relaxarem, entrando numa espécie de estágio letárgico em relação às ações que devem tomar para de fato chegarem ao objetivo pretendido. A reflexão sobre o processo, por sua vez, aumenta a pressão sanguínea, deixando as pessoas mais ativas.
O que fazer então?
Com o resultado da pesquisa, Oettingen e sua equipe desenvolveram uma metodologia batizada de “contraste mental”. Basicamente, a técnica consiste em não apenas focar em seu objetivo, mas também imaginar os possíveis obstáculos para conquistá-lo.
Em outro experimento, por exemplo, a psicóloga voltou-se às crianças. Pediu para um grupo imaginar um chocolate, que receberia caso cumprisse uma tarefa da escola. Para outro grupo, deu a mesma orientação, porém com o encargo adicional de que também refletissem sobre as atitudes que poderiam impedi-los de concluir a missão. Novamente, o segundo grupo teve resultados mais positivos do que o primeiro.
“Aparentemente, ser consciente não apenas de seus sonhos, mas também das barreiras reais que você ou o mundo colocam no caminho, é uma forma muito mais eficaz de atingir seus objetivos.”
Richard A. Friedman
Professor de psicologia clínica da Weill Cornell Medical College, em artigo do “NYT”
Pode parecer óbvio, mas, segundo a pesquisadora, são poucas as pessoas que pensam dessa forma. Ainda mais quando consideradas as crenças e sofismas em torno do poder do pensamento positivo.
Para incentivar o “contraste mental”, Oettingen desenvolveu, inclusive, um aplicativo para smarthphones que motiva a mudança de hábito nesse sentido. O app foi batizado de Woop, sigla em inglês para “desejo, resultado, obstáculo, plano.” Mas é claro, mentalizar todos os elementos, ainda assim, não será sinônimo de conquista.
Fonte: Nexo, por Beatriz Montesanti 31 Jul 2016 (atualizado 02/Ago 10h51).