10 jun O que se espera de uma relação?
Fabrício Carpinejar
Que não tenha mentiras. Nem traição.
Que perceba o que gera ciúme, não se envaideça da insegurança, e procure esclarecer as dúvidas com firmeza.
Que proporcione segurança, sem falsos compromissos. Que o outro possa se ausentar com tranquilidade não precisando se preocupar se você está fazendo o que falou.
Que não exerça a cumplicidade do mal com os próximos, desmerecendo quem você ama.
Que não permaneça de conversa e flerte com ex e interessados, que não ache graça em realizar as coisas escondido, como se fosse mais esperto.
Que não crie juízo final em cada discordância.
Que feche o passado amoroso por respeito e não traga à tona o quanto já foi alegre e livre antes. Afinal, experiência que virou sabedoria é silenciosa.
Que não resvale em soberba e prepotência na hora de ouvir conselhos e aceite opiniões diferentes da sua.
Que respeite quem viveu mais e pode exemplificar dilemas.
Que não desmereça o significado de nenhum presente ou agrado.
Que entenda o senso de humor e a alegria de sua companhia.
Que participe do trabalho do outro.
Que faça demonstrações de como seu par vem sendo especial e decisivo em sua vida.
Que recorde os momentos de entrega e romance para nunca se distanciarem da paixão.
Que conte o que está pensando, antes de qualquer pergunta.
Que exponha seus gostos e não cobre adivinhação. E que não se insulte em repetir as preferências. Esquecimento nem sempre é desinteresse.
Que destaque o quanto prefere viajar a dois, para dividir as lembranças e somar as memórias.
Que organize férias e alimente expectativas.
Que não deboche pelas costas.
Que não repita as ofensas que mais doem numa discussão.
Que não agrida fisicamente por nada neste mundo.
Que os projetos sejam cumpridos e jamais abandonados. Pela insistência, diferenciamos o sonho do capricho.
Que jamais despreze o salário ou gaste algo sem a dimensão do esforço que custou.
Que as atividades planejadas diariamente, ainda que desagradáveis, não sejam canceladas.
Que não use dois pesos e duas medidas, que aquilo que peça também seja feito de sua parte.
Que abra espaço para o programa predileto do outro uma vez por semana.
Que prepare um jantar ou um café de surpresa para roubar risos.
Que conforte na doença e acalme na tristeza.
Que tire um dia no final de semana para preguiça da conchinha e da tevê.
Que participe das contas, do planejamento da casa.
Que festeje as virtudes do outro com os amigos e que exponha, reservadamente, os defeitos que incomodam.
Que combata as injustiças com ardor.
Que agradeça as gentilezas retribuindo com novas gentilezas.
Que não incentive intrigas e procure aproximar os familiares.
Que todas essas regras sejam espontâneas e esquecidas dentro da felicidade. Pois apenas existe um jeito de amar que dá certo: quando amamos com caráter.
Fonte: O Globo, 19/03/2015