O que se espera de uma relação?

Fabrício Carpinejar

Que não tenha mentiras. Nem traição.

Que perceba o que gera ciúme, não se envaideça da insegurança, e procure esclarecer as dúvidas com firmeza.

Que proporcione segurança, sem falsos compromissos. Que o outro possa se ausentar com tranquilidade não precisando se preocupar se você está fazendo o que falou.

Que não exerça a cumplicidade do mal com os próximos, desmerecendo quem você ama.

Que não permaneça de conversa e flerte com ex e interessados, que não ache graça em realizar as coisas escondido, como se fosse mais esperto.

Que não crie juízo final em cada discordância.

Que feche o passado amoroso por respeito e não traga à tona o quanto já foi alegre e livre antes. Afinal, experiência que virou sabedoria é silenciosa.

Que não resvale em soberba e prepotência na hora de ouvir conselhos e aceite opiniões diferentes da sua.

Que respeite quem viveu mais e pode exemplificar dilemas.

Que não desmereça o significado de nenhum presente ou agrado.

Que entenda o senso de humor e a alegria de sua companhia.

Que participe do trabalho do outro.

Que faça demonstrações de como seu par vem sendo especial e decisivo em sua vida.

Que recorde os momentos de entrega e romance para nunca se distanciarem da paixão.

Que conte o que está pensando, antes de qualquer pergunta.

Que exponha seus gostos e não cobre adivinhação. E que não se insulte em repetir as preferências. Esquecimento nem sempre é desinteresse.

Que destaque o quanto prefere viajar a dois, para dividir as lembranças e somar as memórias.

Que organize férias e alimente expectativas.

Que não deboche pelas costas.

Que não repita as ofensas que mais doem numa discussão.

Que não agrida fisicamente por nada neste mundo.

Que os projetos sejam cumpridos e jamais abandonados. Pela insistência, diferenciamos o sonho do capricho.

Que jamais despreze o salário ou gaste algo sem a dimensão do esforço que custou.

Que as atividades planejadas diariamente, ainda que desagradáveis, não sejam canceladas.

Que não use dois pesos e duas medidas, que aquilo que peça também seja feito de sua parte.

Que abra espaço para o programa predileto do outro uma vez por semana.

Que prepare um jantar ou um café de surpresa para roubar risos.

Que conforte na doença e acalme na tristeza.

Que tire um dia no final de semana para preguiça da conchinha e da tevê.

Que participe das contas, do planejamento da casa.

Que festeje as virtudes do outro com os amigos e que exponha, reservadamente, os defeitos que incomodam.

Que combata as injustiças com ardor.

Que agradeça as gentilezas retribuindo com novas gentilezas.

Que não incentive intrigas e procure aproximar os familiares.

Que todas essas regras sejam espontâneas e esquecidas dentro da felicidade. Pois apenas existe um jeito de amar que dá certo: quando amamos com caráter.

Fonte: O Globo, 19/03/2015

Flávio Hastenreiter
flaviohastenreiter@gmail.com