O que é depressão?

Robert L. Leahy

“Tudo parece tão desesperador”, disse Karen. Enquanto olhava para as próprias mãos, as lágrimas começaram a cair. “É difícil me levantar de manhã. Eu ajusto o despertador, mas não tenho vontade de sair da cama. Meu coração fica apertado quando penso em ir para o trabalho. Eu tenho medo das manhãs. Eu não tenho mais nada para esperar.”

Todos os dias, Karen se acordava de madrugada e sentia uma tristeza avassaladora. Ficava sentada na cama, sozinha, pensando em como sua vida era ruim. Por que eu sou assim? Eu não faço nada direito. Esses pensamentos tristes e pesados inundavam sua mente, fazendo-a achar que não havia motivos para seguir em frente. Logo iria amanhecer, e ela havia começado outro dia infeliz. “Eu me pego chorando sem nenhum motivo”, disse-me ela. “Eu queria poder voltar a dormir – para sempre.”

Karen tinha 32 anos quando me procurou pela primeira vez. Ela estava separada de Gary há mais de um ano, e o divórcio seria finalizado em poucos meses. Seu casamento tinha começado a apresentar problemas quatro anos antes – Gary era dominador, desdenhava os sentimentos de Karen e era muito crítico com quase tudo o que ela fazia. Ela me disse, quase se desculpando: “Eu tentei ser uma boa esposa”. Então acrescentou, em sua defesa: “Eu estava com muito trabalho no escritório e nem sempre conseguia organizar as coisas em casa da forma como Gary queria”. Ele a chamava de irresponsável, preguiçosa e negligente e, se ela reagisse, simplesmente a humilhava ainda mais. Nada era bom o suficiente. Ele se sentia superior, e Karen, derrotada.

Inicialmente ela tinha altas expectativas em relação ao casamento. Gary parecia ser um homem do tipo confiante, responsável, alguém que ela poderia respeitar. “Ele era o namorado perfeito”, disse Karen. “Eu me lembro de quando me trazia flores, me levava a ótimos restaurantes e dizia o quanto eu era bonita.” Ela baixou os olhos. “Mas isso foi há muito tempo.” Karen disse que, na semana anterior ao seu casamento, sabia que estava cometendo um erro – Gary era constantemente crítico e até chegou a dizer que não tinha certeza se queria se casar com ela, mas Karen achava que não poderia cancelar tudo, pois muitas pessoas viriam para a cerimônia.

A intimidade do casal diminuiu rapidamente no primeiro ano. Havia pouco carinho, pouca afeição e muito pouco sexo. Gary chegava tarde em casa, às vezes parecendo um pouco alto. Ele dizia que estava com parceiros de negócios – que precisava socializar para manter contato com as outras pessoas do trabalho. Karen, por fim, começou a suspeitar que ele estivesse mentindo, mas não tinha nenhuma prova. Enquanto isso, eles discutiam sobre praticamente tudo – quem era responsável pelos cuidados com a casa, pelas compras e pelo planejamento. Afinal de contas, argumentava Karen, “Eu também tenho um emprego”. Mas Gary queria que as coisas fossem do jeito dele.

Então, depois de três anos, disse a Karen que queria o divórcio. Ele havia conhecido outra mulher em função de seu trabalho – uma vendedora de outra empresa. A “outra mulher” era divorciada, tinha um filho de 5 anos, e Gary vinha se encontrando com ela após o trabalho há meses. “Ela me entende. É mais o meu tipo”, disse ele. “Eu realmente quero sair desse casamento.”

Karen se sentiu devastada. Ficou furiosa com Gary por trair e mentir, mas também se culpava. “Se eu fosse mais atraente e interessante, ele não teria me traído. Eu não sou boa o suficiente para segurar um homem.” Agora, ela achava que não tinha nada a oferecer, que o tempo estava se esgotando para ela e estava sozinha. “Eu perdi o contato com os meus amigos”, me disse. “Estava sempre sentada em casa esperando Gary. Eu costumava ver meus amigos antes de me casar. Agora não tenho nada.”

Karen também havia perdido o interesse em outras coisas. “Eu costumava ir à academia e me exercitar. Aquilo me dava energia e fazia eu me sentir bem comigo mesma, mas não vou há mais de um ano.” Ela andava comendo junk food – “comfort food” [Contrário ao fast food, é comida caseira que remete à infância, trazendo lembranças de uma época de aconchego.] – porque isso a fazia se sentir um pouco melhor por alguns minutos, mas estava perdendo controle sobre sua alimentação e ganhando peso. “Olhe para mim”, disse. “Quem iria me querer?”

Pedi que Karen me desse uma imagem visual, um quadro de como era a sua depressão. “Eu me vejo dentro de um quarto vazio, deitada na cama, com as cortinas fechadas”, disse. “Eu estou sozinha, chorando.” Ela me encarou nos olhos e depois desviou o olhar. “É assim que a minha vida vai ser. Eu sempre vou estar sozinha.”

Pensando em Karen enquanto escrevo isto, fico triste em relembrar o quanto ela se sentia mal. Eu podia ver a dor, a falta de esperança e a autocrítica que a faziam sofrer. Ela achava que o divórcio provava o quanto era incapaz de ser amada e que ninguém mais iria querer ficar com ela. Não conseguia ver que tinha uma história de fortes conexões com as pessoas – amigos que a respeitavam e a amavam – e que era produtiva e valorizada no trabalho. Não conseguia ver que era inteligente, gentil e prestativa e não conseguia entender que seus sentimentos de tristeza e autorrepúdio poderiam não durar para sempre.

Mas eu tenho sorte. Sei como as coisas terminaram para Karen, e essa é uma lembrança feliz para mim. Ela superou a depressão e agora tem um novo homem em sua vida, uma nova autoconfiança e uma autoestima muito mais realista. Como alguém que se sentia tão sem esperança e mergulhada na tristeza e no desespero encontrou uma luz no fim do túnel?

Não foi o fato de encontrar um novo homem que a salvou. Foi ela quem se salvou da depressão. Aprendeu a assumir o controle da sua vida – todos os dias. Começou a identificar e a mudar seu pensamento negativo, o que possibilitou que se sentisse e agisse melhor. Seus relacionamentos se desenvolveram à medida que se aproximou dos amigos quando se sentia isolada e solitária, e descobriu que poderia ser sua própria terapeuta – depois que recebeu as ferramentas.

Flávio Hastenreiter
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