21 jun Fazer, Ser e a Atenção Plena
John Teasdale, Mark Williams e Zindel Segal
Convido a avaliar, característica por característica, o equilíbrio entre o fazer e o ser na sua experiência do dia a dia, conforme descrito abaixo:
Mais fazer do que ser?
O fazer e o ser estão equilibrados?
Mais ser do que fazer?
Viver no “piloto automático”
versus
Viver com percepção consciente e escolha
NO MODO FAZER nós vivemos grande parte do tempo no piloto automático: dirigimos, caminhamos, comemos e até falamos sem estar claramente conscientes do que estamos executando. O fazer tem início automático sempre que existe uma divergência entre onde estamos e onde queremos estar. Concentrando-nos limitadamente nas metas, é raro prestarmos atenção nas maravilhas acontecendo à nossa volta enquanto avançamos pela vida. Podemos deixar escapar grande parte da nossa vida, adiando de modo contínuo a ocasião em que ela será menos frenética e então voltaremos a reparar novamente nas coisas.
O MODO DE SER é intencional, em vez de automático. Isso significa que podemos escolher o que fazer em seguida, em vez de funcionar baseados em hábitos antigos e desgastados. Isso nos possibilita enxergar as coisas como se fosse a primeira vez. Nós “voltamos a habitar” o momento presente e nos tornamos conscientes da nossa vida. Ser confere frescor à nossa percepção. Nós nos tornamos de novo plenamente vivos e conscientes.
Relacionar-se com a experiência por meio do pensamento
versus
Sentir diretamente a experiência
O MODO DE FAZER funciona baseado em ideias – são as metas. Ele pensa a respeito do mundo que habitamos, a respeito do tipo de pessoa que somos, a respeito dos sentimentos, sensações e pensamentos que temos – os pensamentos preenchem a nossa mente grande parte do tempo. Quando lidamos com um pensamento a respeito da vida como se ele fosse a “coisa real’, nós vivemos um passo atrás da vida – nós nos conectamos indiretamente com ela por meio de um véu de pensamentos que lhe removem a cor, a vitalidade e a energia.
NO MODO DE SER nós nos conectamos diretamente com a vida – nós a sentimos, a vivenciamos, a conhecemos intimamente com estreita familiaridade. Obtemos uma amostra da abundância e das maravilhas em constante transformação da experiência da vida.
Viver e se concentrar no passado e no futuro
versus
Estar plenamente no momento presente
NO FAZER, nós nos envolvemos em uma viagem mental no tempo. A nossa mente avança para o futuro – para as nossas ideias de como queremos que as coisas sejam – ou volta ao passado, para lembranças de situações semelhantes, a fim de ver que orientação elas podem oferecer. No tempo mental, nós nos sentimos como se estivéssemos mesmo no futuro ou no passado. Isso nos impede de vivenciar a plenitude da vida no presente. Podemos facilmente acabar ruminando coisas do passado, vivenciando de novo a dor de perdas e fracassos anteriores. Ao nos preocupar com o futuro, sentimos medo e ansiedade com relação a ameaças e perigos que talvez nunca venham a acontecer.
NO SER, a mente está concentrada, aqui, agora, neste momento, plenamente presente e disponível para o que quer que o universo possa oferecer. Podemos ter pensamentos a respeito do futuro e recordações do passado – mas, de modo crucial, nós experimentamos como partes da nossa experiência atual. Nós os presenciamos sem ser arrastados para os mundos passados ou futuros que os pensamentos poderiam de outra maneira criar.
Precisar evitar, escapar ou se livrar da experiência desagradável
versus
Abordá-la com interesse
NO MODO DE FAZER, a reação imediata e automática a qualquer experiência desagradável é definir uma meta – evitar a experiência, afastá-la, livrar-nos dela ou destruí-la. Essa reação é chamada de aversão. A aversão está por trás de todos os padrões de pensamento que nos fazem ficar emperrados em emoções indesejadas.
NO SER, a reação básica é nos aproximarmos de todas as experiências, até mesmo das desagradáveis, com interesse e respeito. Nós não estabelecemos metas para a maneira como as coisas deveriam ou não ser. Mais exatamente, existe um interesse natural por todas as experiências – sejam elas agradáveis, desagradáveis ou neutras.
Precisar que as coisas sejam diferentes
versus
Deixar que as coisas sejam apenas como são
O FAZER é dedicado à mudança – a tornar as coisas mais como achamos que elas deveriam ser e menos como achamos que elas não deveriam ser. Como estamos sempre nos concentrando na lacuna entre o que é e o que deveria ser, podemos ter um sentimento básico de que nós ou as nossas experiências estamos de alguma maneira aquém das expectativas – nós ou elas simplesmente “não somos bons o bastante”. Essa sensação de inadequabilidade pode facilmente se transformar em autocrítica e autorreprovação. Existe uma falta básica de afabilidade com relação a nós mesmos e à nossa experiência.
O SER traz consigo uma atitude de “tolerância” com relação a nós mesmos e à nossa experiência. Não existe nenhuma exigência de que a experiência se harmonize como as nossas ideias de como ela deveria ser – ser permite que a experiência seja exatamente como ela é. Podemos ficar contentes com a experiência, mesmo que a consideremos desagradável. Podemos ficar contentes como nós mesmos, ainda que, a partir da perspectiva do modo de fazer, não sejamos tudo o que deveríamos ser. Essa aceitação radical personifica uma atitude básica de bondade e boa vontade incondicionais.
Ver os pensamentos como verdadeiros e reais
versus
Vê-los como eventos mentais
O MODO DE FAZER trata os pensamentos e ideias as respeito das coisas como se eles fossem as próprias coisas. No entanto, o pensamento a respeito de uma refeição não é a refeição em si – um pensamento é apenas um evento mental – muito, muito diferente da experiência da qual ele se ocupa. Se nos esquecermos disso e tratarmos os pensamentos como uma realidade, quando pensarmos “Eu sou um fracasso”, poderemos nos sentir como se tivéssemos acabado de ter a experiência de ser um fracasso.
NO SER, nós vivenciamos os pensamentos como parte do fluxo da vida – exatamente da mesma maneira como experimentamos as sensações, os sons, os sentimentos e as coisas que vemos. Cultivamos a capacidade de vivenciar os pensamentos como pensamentos – eventos mentais que entram e saem da mente. Com essa mudança, nós despojamos os pensamentos do seu poder de nos perturbar ou de controlar as nossas ações. Quando enxergamos os pensamentos pelo que eles são – apenas pensamentos, nada além de eventos mentais passageiros –, podemos vivenciar uma sensação maravilhosa de liberdade e bem-estar.
Priorizar a consecução de metas
versus
A sensibilidade para necessidades mais amplas
NO MODO DE FAZER, podemos ficar concentrados, de modo incessante, em perseguir metas e planos extremamente absorventes e desgastantes como uma espécie de estreiteza de visão, excluindo tudo o mais, inclusive a saúde e o bem-estar pessoais. Podemos desistir de atividades reconfortantes para nos concentrar no que parece ser mais importante. Os nossos recursos internos podem ficar desgastados, deixando-nos esgotados, apáticos e exaustos.
NO SER, permanecemos sensíveis à imagem mais ampla. Conscientes dos custos de um foco estreito na tentativa de alcançar as metas, podemos equilibrar a realização com uma espécie de interesse compassivo pelo nosso bem-estar e pelo bem-estar dos outros. Valorizamos a qualidade do momento, em vez de nos concentrarmos apenas na meta distante que imaginamos.